A violência política em nossas escolas

Nossos alunos e alunas merecem e precisam de confiança. Portanto, entendemos apropriado nos desprover de todos os preconceitos enraizados sobre nossas escolas e acreditarmos nela. Dentro delas pulsam os corações das nossas crianças e jovens e dos profissionais da educação.

A insegurança em nosso país se espalha nas salas de aulas de acordo com as externalidades econômicas e políticas. O que uma política descuidada fez (ou deixou de fazer) com nossas escolas nestes últimos seis anos?

Nossas escolas foram consideradas apenas um peso em nossa economia, sem o devido valor, relegadas a amortizar as convulsões sociais que ocorreriam sem elas. O marketing político, buscando resultados momentâneos, predomina com projetos que nada contribui para a formação humana e a aprendizagem ao longo da vida.

A “Escola Cívico Militar” é um exemplo do retrocesso na gestão democrática da educação, na realidade o seu objetivo é apenas de desarticular o sistema educativo do país, trazendo mais descaso à nossa já castigada categoria, falhando com a valorização dos seus profissionais, limitando o piso salarial do magistério de forma inadequada as suas necessidades humanas, como também ao seu aperfeiçoamento. Não se atribuí a justa valorização à um dos mais belos trabalhos humanos, o de formar cidadãos.

Porém, essa tarefa nada fácil, não pode ser apenas dos professores e professoras que, para formar cidadãos também precisam exercer a sua cidadania, precisam ser ouvidos. Formar cidadãos pressupõe um olhar atento aos detalhes do dia-a-dia de nossas crianças e jovens, é na escola que as mais diversas realidades se manifestam. O trabalho docente vai muito além de ensinar os conteúdos obrigatórios e necessários, vai muito além de alcançar metas quantitativas.

A educação não pode estar a serviço do mercado, é preciso inverter essa lógica que não é responsabilidade exclusiva dos profissionais que atuam nas escolas, mas também do estado e de toda a sociedade, como dispõe a Constituição Federal - Artigo 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

É percebido por todos, em especial da classe política, o desinteresse e a violência que tem entrado em nossas escolas e cada vez mais dentro das salas de aula, com alunos que expressam em suas atitudes, o abandono, o desconforto, e consequentemente, o desânimo e a falta de esperança. Cercearam o futuro e as inspirações da adolescência, e agora deixam a violência causar o medo em toda comunidade escolar.

Formamos uma geração de docentes cada vez mais defensivos, prontos para ceder ao desengajamento. Fruto disso são as famílias, que desorientadas, se tornam cada vez mais intrusivas e ausentes.

Aos profissionais da educação permeia o sentimento de solidão e desvalorização, tornando-os cada vez mais reféns das suas próprias necessidades.

Uma avalanche de problemas se tornou comum ao calendário letivo, dificultando aos profissionais enfrentá-los no imediato ou no médio prazo, quatro anos de abandono da educação, é a condenação de toda uma geração.

Os ministros de Bolsonaro foram sem dúvidas os piores da história da educação no Brasil, iniciando por Ricardo Vélez Rodríguez (Colombiano), Abraham Weintraub, Carlos Decotelli e Milton Ribeiro, esse último investigado após denúncias apontarem a existência de um “gabinete paralelo” dentro do Ministério. Pastor presbiteriano, ele era assessorado por outros dois pastores, que atuavam na distribuição de verbas federais destinadas à educação do país, mesmo sem terem vínculo com o MEC e com o governo federal.

Semeadas as dificuldades para as próximas gerações enfrentarem a reponsabilidade no desenvolvimento educacional, não será fácil encontrar uma solução séria a longo prazo sobre a qualidade da educação que resulte na capitalização do único tesouro que todo país possui: seus jovens.

Nossos alunos e alunas merecem e precisam de confiança. Precisamos dialogar com eles sem esquecermos que também fomos jovens. Seria o mínimo a se fazer para que realmente venhamos a retomar a confiança e o amor pelas escolas e pela educação, reproduzindo sentimentos positivos que tragam a certeza de um futuro garantidor.

Não é possível pensar na educação e nos alunos apenas com a aquisição de uniformes e computadores portáteis ou outros bens materiais se não objetivarmos estabelecer uma consciência que os profissionais são a grande corrente para o futuro. À esses profissionais da educação são atribuídos a única certeza de um futuro promissor às próximas gerações.

Sem investimento público na continuidade e qualificação dos docentes e dos profissionais da educação nada será promissor, apenas teremos mais marketing político e menos eficiência nos resultados dos governos, assim mais pobre e inculto será nosso povo.

 

José Osmir Bertazzoni (64) Jornalista e Advogado

 

Solange Prado Castel (57) Professora e Especialista em Gestão Escolar



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